A musa
Ó, dize-me, poeta, mesmo ausente,
De mim, que mal conheço, se te inspiro!
Se é da dor, o que sei, o que respiro
Me deixa aqui, calada, simplesmente.
O meu sorriso é triste, tu não sentes?
Um curto rio não chega vivo à margem.
Sem dar contas a Deus, sigo em viagem
Meio luz, meio sombra entre as videntes!
Os meus cabelos loiros que tu exaltas
E brilham fio a fio, devagarinho,
São vinhas... Luzes soltas das ribaltas,
Anunciam-me, à noite, como a musa.
Mas, se te beijo terna e de mansinho,
Ela diz:
Vai-te embora! És a intrusa!
Canoas - 11.03.2010/RS