Arte de Anna Paes
Ano velho
Eliane Triska
Deixo mortos no caminho...
Que descansem no calcário dos córregos,
leves mortalhas.
A brisa ainda amealha os últimos suspiros.
Deixa-me! Não preciso lamentar
o fogo queimando a terra e o ar.
Há o céu, gentil, a dizer-me
que posso pescar num formigueiro de estrelas.
Apronto-me!
Arrumo as telas passadas,
sem mais a adiar.
Trago-te em mim, como desfalque,
a falta troca o ano
e o sabor ocre da despedida.
Insano!
Devolve os pensamentos que te alimentei!
Quero-os de volta!
Não os quero servidos ao filho que te dei.
Dá a luz e morre!
Morre, antes que teu filho nasça velho
e, reclamado por ti,
seja o teu lugar.
Dou-te nenhum para ficar!
Do Livro *Os tempos e sua voz*
Eliane Triska
Enviado por Eliane Triska em 20/12/2012
Alterado em 20/12/2012
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