Arte de Anna Ju Paes
Rastros
O mar dorme nas luas descendentes,
E evoca à noite, que as areias tragam,
No dourar sombrio, as pegadas quentes,
Mais de mil sonhos, que entre elas vagam.
Dorme, mar! Não apagues! Pobres rastros,
Deixados à deriva qual barquinhos,
Movidos pela lua a meio mastro.
Se tu ruges, os sorves como um vinho.
Deixa-os, aí! Clamam por piedade!
Não vês a grande noite a prantear
Por desgraçados homens da cidade?
E, tendo compaixão por quem sofreu,
Desperta! Mas, depois que eu encontrar,
Dos mil sonhos, aquele que foi meu.
Canoas, 13 de janeiro de 2015.